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São Miguel do Guamá,21/11/2024

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PRONOME NEUTRO: A evolução da linguagem e suas controvérsias

A linguagem neutra como reflexo da diversidade e do preconceito linguístico no Brasil


PRONOME NEUTRO: A evolução da linguagem e suas controvérsias Alexandre Meireles (O Grande)

Como tudo no Brasil se polemiza, o uso da linguagem neutra se tornou alvo daqueles que prefere segregar, excluir do que pesquisar e compreender o assunto. Quanto ao uso, é certo ou errado? Pode ou não pode? Eis o dilema. Vamos tentar entender o que é ou se pode ser usado.

Precisamos inicialmente entender um mínimo de Língua Portuguesa e seu surgimento, para que todos os outros conceitos não soem estranhos aos nossos ouvidos. 

A Língua Portuguesa surgiu na região que hoje é a Galiza, localizada ao noroeste da Península Ibérica e assim como todas as outras línguas latinas derivam do Latim vulgar, mais a influência árabe e das tribos que viviam na região, sua origem está altamente conectada a outra língua (o galego), mas o português é uma língua própria e independente. 

O Latim era língua falada no império romano, com a expansão românica o Latim se dividiu formando assim outras ramificações como: o helênico (de onde veio o idioma grego); o românico (que originou o português, o italiano e o francês); o germânico (de onde surgiram o inglês e o alemão); o céltico (que deu origem ao irlandês e ao gaélico); e o eslavo (que originou diversas línguas faladas na Europa Oriental).

Desde os tempos de Latim, a língua já era usada, assim como se aplica à língua portuguesa nos dias atuais no Brasil, na forma clássica e vulgar. Em Roma, a forma clássica era presente entre as pessoas consideradas cultas e pela classe dominante (como senadores, filósofos e poetas); e o vulgar, falado pela maior parte do povo. Mais tarde, às margens do rio Minho, nasceu o galego-português e aos poucos os dois dialetos se distanciaram. 

Com a ampliação do império de Portugal, o português passou a ser a língua oficial da nação. Enquanto isso, o galego se tornou uma variante do espanhol, ainda falada na Galícia (norte da Espanha), em suma, a Língua Portuguesa nasce de uma variante do Latim.

Ao analisarmos a linha do tempo de Língua Portuguesa, observamos que a nossa língua já nasceu da forma variante do Latim, ou seja, o Latim vulgar. Dito isto, a língua está sempre se modificando ao longo do tempo e do espaço geográfico. Ela absorve novas palavras, assume gírias e pode até contrair expressões. Isso acontece a todo momento, mesmo que de forma imperceptível. 

É válido salientar que o Brasil é um País de extensões continentais e com regiões distantes uma das outras, o que causa uma fala mais regionalizada, principalmente quando ocorre a evasão de pessoas de um estado para o outro. Esta regionalização da língua é vista para muitos como um “problema” e para outros como riqueza. Estando a língua em constante movimento, faz com que ela absorva novas palavras, gírias, novas possibilidades e isto ocorre tanto no espaço quanto no tempo. No espaço geográfico, diferentes regiões; no tempo, em diferentes situações que mudam na sociedade. Assim como a sociedade vai mudando, a língua acompanha essas mudanças da sociedade, um exemplo simples de mudança com o tempo é o da palavra “você”, “Vossa mercê”, depois virou “vosmecê passou para “você”.  Estas variações ainda ocorrem entre grupos sociais com manifestação de gírias. Já a variação geográfica naturalmente resulta na diferença de linguagem de cada região. Como exemplo elencamos a palavra chop, aquele suquinho gelado no saquinho, que em alguns estados ele é conhecido por outra nomenclatura: Sacolé, geladinho, gelinho, dindim, chope, chopp, ou chup-chup, todas essas palavras rementem semanticamente ao mesmo objeto e ainda tem diversas outras classes de variantes que não vamos citar aqui para que o texto não fique muito extenso.

O que é a língua neutra?

Para exemplificar, pegamos um texto do Portal G1:

“É a substituição dos artigos feminino e masculino por um "x", ou até pela "@" em alguns casos. Assim, "amigo" ou "amiga" virariam "amigue" ou "amigx". As palavras "todos" ou "todas" seriam trocadas, da mesma forma, por "todes", "todxs" ou "tod@s". A mudança, como é popular principalmente na internet, ainda não tem um modelo definido”.

O texto a cima está na forma neutra, este é um dialeto com seus próprios códigos e tem como objetivo adaptar o português a fim de que as pessoas não binárias (que não se identificam nem com homem, nem como mulher) ou intersexo se sintam representadas.

Ponto de vista técnico

Há diversos tipos de gramática: Normativa, histórica, descritiva e comparativa. Nas escolas do Brasil se ensina a gramática normativa, é neste tipo de gramática que se estabelecem as normas de escrever e falar de forma “correta”. Porém, hoje já há um grande movimento contra o uso da gramática normativa em sala de aula, pois ela não leva em consideração o aprendizado sociocultural do aluno, desprezando o aprendizado empírico do estudante. Ao mesmo tempo, ela se faz necessária a partir do ponto de vista educacional.

Na concepção daqueles que se propõem aos estudos das línguas e seus comportamentos, a língua é heterogênea, múltipla, variável, mutante, instável e está sempre em desconstrução e reconstrução. “Ao contrário de um produto pronto e acabado, a língua é um processo, um fazer-se permanente e nunca concluído. É uma atividade social, um trabalho coletivo, produzido por todos os seus falantes, cada vez que eles se interagem por meio da fala ou da escrita”.

A partir destes pontos de vista, posso me referir a um grupo de homens e mulheres com “TODOS” ou “TODOS E TODAS? A língua portuguesa se vale da forma masculina como termo neutro, ou seja, a segunda forma “todos e todas” neste aspecto estaria redundante.  


Preconceito linguístico

O linguista brasileiro Marcos Bagno se destaca nesta ramificação da língua portuguesa no Brasil. Em sua obra Preconceito Linguístico, Bagno defende a valorização da identidade e da cultura do povo brasileiro.

Ações que podem ser segregadoras:

Rir de alguém pelo sotaque.

Debochar de gírias antigas.

Corrigir a pronúncia “errada”.

Julgar linguagem antiga como mais correta.

Discriminar a linguagem abreviada utilizada na internet.

O preconceito linguístico refere-se ao julgamento negativo que algumas pessoas fazem sobre a forma de falar de outras, muitas vezes baseado em preconceitos sociais, culturais ou de classe. No contexto da língua neutra, esse preconceito se manifesta quando indivíduos rejeitam ou deslegitimam o uso de formas linguísticas que buscam promover a inclusão de gêneros além do masculino e feminino. Essa resistência pode ser vista como uma extensão de homofobia, pois ignora e desconsidera a identidade de pessoas não-binárias e a diversidade de expressões de gênero. Ao não aceitar a língua neutra, essas pessoas não apenas perpetuam estigmas, mas também negam a validade das experiências e identidades de uma parte significativa da sociedade.


A rejeição à língua neutra revela uma falta de compreensão e empatia em relação às questões de gênero. Assim como em outras formas de preconceito, essa postura limita a possibilidade de diálogo e a construção de uma sociedade mais inclusiva. Ao invés de abraçar a diversidade linguística como uma forma de enriquecer a comunicação, muitos se fecham em uma visão tradicional que exclui e marginaliza. Portanto, combater o preconceito linguístico e promover o uso da língua neutra é um passo fundamental para a aceitação e valorização de todas as identidades, contribuindo para um ambiente social mais justo e respeitoso.

Em suma, assim como convivemos com a gíria de “malandro”, caipira, urbana, qual a dificuldade de convivência, a neutra ou bajubá? Nada justifica a não ser a homofobia e o preconceito.






Fontes de pesquisa:  https://bit.ly/3PUAtI  - https://encurtador.com.br/Chsu -   https://bit.ly/3IcZno



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